quarta-feira, 12 de novembro de 2014

O QUE DÓI MAIS?





Dor de Sentir e de Calar Emoções 
(Texto e desenho de Kau Mascarenhas)

Não expressar o que sinto seria uma escolha infeliz. Há quem compare o silêncio dos sentimentos com um nó na garganta. Na minha ele é uma corda inteira que aperta o pescoço por fora e entala por dentro.
Tente imaginar-se engolindo um pedaço de corda com todos os seus fiapinhos ferinos enquanto outra parte dela lhe engravata e sufoca.
Exagero? Não, não. Metáfora eloquente.
Sobretudo quando se trata de raiva, tristeza e medo, três emoções básicas do pacote "ser gente”.
Se como humanos vivemos em linguagem e somos mergulhados cem por cento em afetos, sentir essas coisas já é dor e não expressar seria voluntariamente sofrer.
Ou seja torturar-me, animalizar-me ou até deixar de viver.

Torturo-me quando não digo da raiva que sinto. Isso não significa gritar com o outro para desentalar. Posso falar com outro alguém sobre minhas emoções, seja em sessão terapêutica ou na mesa de um bar. Amigos são normalmente ótimos ouvintes. Creio que é o mínimo que espero de um. E quando não dá pra alugar ouvidos camaradas, nem sempre disponíveis, vamos ao divã. A voz do outro tecendo sua própria mirada sobre o que acontece comigo, me empresta novas percepções. E assim, talvez a raiva saia e seja vista, e com ela fora de mim, posso manter mais facilmente alguma sanidade.
Elza Soares diz que "canta para não enlouquecer".
Eu falo, escrevo e desenho para me observar enquanto deixo a mudança acontecer.

Eu me animalizaria se não falasse da minha tristeza. Os bichos nascem prisioneiros dos instintos. Não podem mudar, nem escolhem fazer diferente. Infelizes? Não. Difícil seria encontrar um hipopótamo arrependido no final de sua vida por alguma decisão tomada. Já o humano... ah, o humano! Esse sofre pelo que fez e pelo que não fez, ou alegra-se por isso, se arrepende pelo que disse e pelo que não disse, ou se parabeniza justo por causa disso. Uma barata não se arrepende de falar sua tristeza após te-la sentido. Já que tem sangue de barata, isso ajuda. Mas nós não temos. Falar da tristeza é risco, mas eu a comunico, em meus riscos e poemas.
Cecilia Meireles, sábia, diz "não sou alegre nem sou triste, sou poeta". Curioso... comigo funciona de outro jeito. Compor, escrever poemas, desenhar, falar faz-me ser um oceano quando alegre. E um Saara quando triste. Sou alegre e triste, e sou repleto de tudo quanto é afeto.
Choro e expresso para não me sentir inseto.

Eu morreria se não mostrasse meus medos. Já disseram que coragem está longe de ser ausência de medo. Trata-se de enfrenta-lo, encara-lo.
O medo do julgamento muitas vezes nos faz desistir da virtude, do amor e da paz. Não vendo o medo do novo desistiria de jogar-me na estrada pensando que escolhi ficar. Esquecendo meu medo de ser julgado não escreveria achando que me faltou inspiração. Desconsiderando o medo de amar ficaria sozinho pensando que apenas busco recolhimento. Não notando minhas sombras por medo de sua feiura navegaria por águas rasas de mim mesmo. Mas não observando o medo da minha própria luz, contemplaria somente minha escuridão, o que seria disfarce de humilde autoconhecimento.
E sem me jogar ao novo, sem expressar e sem amar, sem sombra e sem luz, não seria quem sou. Sem mostrar o medo, a raiva ou a tristeza não seria sequer gente. O medo de sentir, e de dizer-me sentindo, me entala e sufoca, e enfim pode me matar.
Lennon era gênio e dizia ter "medo desse negócio de ser normal”, quando o mais normal para quem quer ser normal é ter medo de ser diferente. Cansa e dói enquadrar e enquadrar-se, adequar e adequar-se, fingir não sentir ou calar o que se sente.
É viver mentindo.
Portanto sigo dizendo o que sinto para simplesmente continuar existindo.

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E para você, qual a dor maior? A de expressar ou a de calar?
Que parte mais lhe tocou nesse texto? Abraços com kaurinho!

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(Kau Mascarenhas é palestrante empresarial, tem formações completas em PNL - programação neurolinguística, Coaching Ontológico. É ilustrador e escritor. Diretor do Pro-Ser Instituto.)

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