terça-feira, 23 de julho de 2013

115- ENSINAMENTOS FELINOS







Sobre cães e gatos


(Texto e foto de Kau Mascarenhas)





Cães e gatos têm instintos. E amam também, sabia?
Mas os cães são programados pela vida para expressar isso o tempo todo. Os gatos, não. Só expressam quando bem entendem.
São pets muito diferentes.
O cão aprende. Já o gato... 
E seguem exatamente o que a natureza lhes deu: o instinto.
O cão parece ser feito para agir conforme o desejo do seu dono. Ele espera firmemente que essa relação mestre/aprendiz aconteça. 
O gato É o dono, e parece ser feito para mostrar que os outros devem agir conforme seu desejo. E ele sabe que a relação senhor/servo vai acontecer. Logicamente, ele será sempre o senhor.
Há cães dóceis e obedientes, protetores e companheiros. Essas são, em se tratando de cães, características tidas como virtudes.
Gatos dóceis e obedientes, protetores e companheiros, podem existir. Isso é fato. Mas não porque foram ensinados a ser assim. Por algum motivo já nasceram desse jeito, e são raros. Essas características no gato não seriam virtudes e sim, anomalias.
Cães quando não são ensinados se tornam revoltados, incontroláveis e invasivos, bem impertinentes com suas carências.
Gatos só podem ser "não ensinados". Já são revoltados, incontroláveis e invasivos por natureza, e não agem em decorrência de suas carências mas justamente por não tê-las. Impertinência é parte de sua essência.
O carinho que o cão busca é para suprir algo que lhe falta. E que sempre parecerá faltar.
O gato busca o carinho quando lhe apetece; e nesse momento ele supre muito mais as carências do humano que o toca.
O cão não recusa o colo, o dengo, a carícia do dono.
O gato não só se acha no direito de recusar como é capaz de se irritar. Pode olhar para quem lhe oferece afagos numa hora imprópria e perguntar silenciosamente: "quem foi que encomendou isso?".
O cão será cão sempre. Ele segue esse impositivo da vida.
O gato terá total liberdade para ser gato, ou para ser cão quando tiver vontade. Sim, pois alguns gatos agem como cães quando querem. Têm programações alternativas.
É assim que eu os vejo e os admiro por isso. Pode ser que outros gateiros tenham percepções bem diferentes das minhas, mas creio que numa coisa concordaremos: os gatos são animais surpreendentes. Nunca espere deles algo muito retilíneo o tempo todo.
Amo todos os animais.
Mas os gatos me fascinam. 
Desde a infância até agora contabilizo treze bichanos em minha vida.
A Tetê é a décima terceira.
Ela é totalmente diferente de qualquer dos outros que já tive. Ou que me tiveram...
Arredia, engraçada, dominadora, elétrica, fofa, autônoma, brincalhona, irritantemente independente.
Aliás, ela é irritantemente "ela mesma".
Não muda, não aprende. 
Mas me ensina dia-a-dia a amar o outro que apenas é do seu próprio jeito.
Mais que isso, conviver com a Tetê é aprender como saborear a companhia de alguém sem querer transformá-lo, e a respeitá-lo deixando que viva da forma como quer viver.
Deveríamos preferir cão ou gato? Qual dos dois animais seria melhor?
Depende do que você necessite aprender.
Se quiser ensinar e ver resultados, se quiser receber carinho e veneração em troca daquilo que oferece, opte por um cão.
Se quiser aprender mais que ensinar, quebrar paradigmas, se surpreender com reações inusitadas e ter a experiência de doar sem nenhuma garantia de reciprocidade, arrume um gato.
Amo a Tetê, mas nem sempre, confesso. Há momentos em que me enfureço com certas coisas que ela faz. Acabar com o estofamento dos móveis por exemplo.
Ela me ensinou a ser humano e humanos sentem raiva, ficam bravos, enfim, não são seres que amam de forma incondicional. 
Nem sempre sinto por ela o mesmo amor.
E sabe de uma coisa? 
Ela não está nem aí pra isso...


*****



A imagem da Tetê meditando me remeteu à solidão nas telas de Edward Hopper. 
(quadro "Morning Sun", de E. Hopper)



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PRO-SER Instituto

Um comentário:

Cileda Azevedo disse...


Que coisa engraçada, a medida em que lia você elencando as características dos gatos, me via em várias delas! Principalmente a imprevisibilidade. Acho que é por isso que crio cachorros minha vida inteira, talvez por não querer concorrência criando gatos rs rs rs ou talvez pela necessidade em dar amor e não ser rejeitada!
Viuxe, acho que é mais um tema para eu colocar na minha lista, quando partir para a terapia! Kkkkk
Nesta minha atual fase de mudança interior penso q seria bom ter um gato e iniciar esse exercício do dar sem exigir nada em troca! Vou pensar nisso......