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SOBRE MEDO, TRAIÇÃO E O MEDO DA TRAIÇÃO
(Kau Mascarenhas)
Recente pesquisa da Sociedade Brasileira de Urologia revela que os maiores medos do homem brasileiro estão na seara dos relacionamentos, tais como o medo de não "funcionar" sexualmente e o medo de ser traído.
Superam inclusive o medo da violência urbana, de assaltos etc.
Para os baianos entrevistados o medo da traição foi aquele que liderou o ranking.
O que poderia explicar esse tipo de temor? Quais as suas consequências? Poderia existir uma profilaxia comportamental, reduzindo possibilidade de traição?
Apesar de considerar muitos aspectos filosóficos, psicológicos e neurocientíficos que serviriam para tratar a questão, pretendo fazê-lo aqui de uma maneira "light" e no final deste artigo quero apresentar três dicas para não ser traído.
Realmente é um tema intrigante. E há brincadeiras e piadas aos montes acerca do assunto, não?
Tanto é assim que, as palavras que designam o traído são bastante ofensivas, transformaram-se em xingamento lançado até para quem nunca foi traído.
Curiosamente, recai sobre o traído um certo desmerecimento, costumeiramente, e não sobre quem mentiu e trapaceou em seu contrato de exclusividade no relacionamento.
Olhando essa questão pelo viés da natureza, os machos de uma espécie, se formos considerar o apenas o gênero, vivem numa eterna disputa para deixar à posteridade a sua carga genética.
Por isso lutam, afastam seus oponentes, buscando ser o alfa do seu grupo a qualquer custo.
Isso vale para pássaros e peixes, bisões e gorilas, bem como para o homem.
Como desconsiderar esse fator competitivo que a própria biologia impõe?
Além disso, pela ótica socio-cultural, há uma pressão fortíssima para que o homem seja capaz, produza, faça bem feito, seja um bom provedor.
Isso produz grande confusão entre comportamento, capacidades, crenças e identidade firmando circuitos neurais que alicerçam o pensamento: fiz - tenho capacidade - homens têm capacidade e precisam mostra-la em ações - sou um homem de verdade.
No caso de um homem que é traído, é provável que haja uma conexão neurolinguística do tipo: não consegui mante-la apenas comigo - não tive a capacidade de te-la só para mim - homem que é homem consegue suprir todas as necessidades de sua parceira - se não sou capaz disso sou um fiasco enquanto homem.
Um caminho neural como esse é capaz de, em alguns casos, arranhar a autoestima de alguém. Em outros pode devasta-la.
É bom lembrar que são diversos os motivos que podem levar alguém a uma traição, desde a real insatisfação com o relacionamento até mesmo outros mecanismos que têm muito mais a ver com quem trai do que com quem é traído.
Quantas pessoas precisam estar numa busca constante de emoções diferentes para que se sintam animadas e felizes?
Quantas, ao iniciarem a relação, não conseguiram revelar que exclusividade sexual é um padrão no qual não podem se encaixar?
Quantas amam seus parceiros mas têm desejos e fetiches que não podem expressar, temendo ser consideradas "sujas", "levianas" ou "indignas de respeito"?
Por outro lado, observando a experiência com foco em quem é traído, não desmerecendo sua identidade mas, analisando possibilidades:
Comporta-se como se o par não tivesse importância?
Persegue o par com questionamentos e investigações pressupondo traição?
Acomoda-se e deixa de notar quais são as necessidades de um e do outro na relação?
Assim sendo, é possível que se admitam responsabilidades em ambas as partes, não existindo portanto, vítima nem algoz.
Ao sabermos que o baiano, de acordo com a pesquisa citada, tem tanto medo de ser traído, me ocorre um outro tipo de afeto ou emoção que também faz apequenar o "gás de viver". Trata-se da vergonha.
Parece-me que o homem baiano se sente temeroso pelo fato de não querer ser o tema das fofocas, das resenhas e papos de boteco dos seus amigos e colegas. Talvez seu jeito expansivo faça com que sinta vergonha pelos julgamentos que, segundo crê, as pessoas farão a seu respeito, coisas do tipo: não foi capaz, não deu conta, não soube fazer a "manutenção e abriu espaço para a concorrência".
Por fim, vejamos as prometidas dicas para não ser traído. Apesar de levar em conta a imprevisibilidade da vida e a falibilidade humana, arrisco aqui expor ideias que podemos considerar profiláticas:
1- Se não quer ser traído, não traia. A congruência pensamento-palavra-ação é fundamental para uma convivência saudável. Quando alguém não quer algo para si, mas produz esse algo na vida do outro, parece que se abre a receber do "destino" a possibilidade de ser colocado do outro lado da mesa em algum momento. Questão de karma? Energia? Talvez não. Quem sabe a culpa, consciente ou inconsciente, seja a grande responsável por atrair eventos e promover situações?
2- Se não quer ser traído, não aja como se isso estivesse acontecendo. Há pessoas que acusam, pressupõem, imaginam e crêem que suas alucinações são a realidade. A PNL, programação neurolinguística, costuma dizer que não reagimos aos fatos e sim às nossas interpretações dos fatos. Se um homem acredita que está sendo traido agirá com sua esposa ou namorada como se ela efetivamente estivesse pulando a cerca. Mesmo que não tenha qualquer dado de realidade, nenhuma comprovação. Seu comportamento mudará, portanto, e será ríspido, pouco carinhoso, e se posicionará como um detetive e não como um companheiro. Isso fará com que seu par comece a se sentir mal dentro da relação, e isso pode promover desinteresse. O Talmude nos diz que "não vemos as coisas como elas são, vemos as coisas como nós somos."
3- Se não quer ser traído, declare seu amor. Fale sobre seu afeto, diga o que sente, expresse o quanto o outro é importante para você. Sabemos que há pessoas cujo canal dominante é o auditivo (pesquisas de sistemas representacionais da PNL). Para essas pessoas as ações que testemunham o amor não são o bastante. Elas precisam escutar com todas as letras que são queridas, que são amadas, por aqueles que lhes são caros.
A propósito, meu rei, você já disse "eu te amo" para seu amor hoje? Não? Nem sequer mandou um Whatsapp?
Que tal fazer isso agora? É importante expressar.
Quem avisa amigo é...
Um comentário:
Fantástico como sempre!
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