terça-feira, 13 de agosto de 2013

119- EM QUE NOS TRANSFORMAMOS?




METAMORFOSE E INDIFERENÇA
(texto e ilustração de Kau Mascarenhas)

Estão matando gente boa em assaltos como se matam insetos, mesmo quando não há reação.
Antigamente recebia tiro quem corria ou lutava. Agora não.
O valor da vida é tão pequeno para os criminosos que alvejar a cabeça de um ser humano é algo que parece ser divertido, de tão fácil e banal.
Os assaltantes tratam e matam pessoas como se fossem baratas.
E eles têm ótimos professores: os políticos.
Infelizmente, enquanto nos manifestarmos pedindo passe livre, hospitais decentes, educação de primeiro mundo e melhor segurança em nossas cidades, que são reivindicações legítimas, as coisas permanecerão como estão.
Contudo, quando olharmos para o que está acontecendo e percebermos que a vida desgraçada que levamos decorre da corrupção, essa chaga maldita que atinge todos os escalões da política – todos mesmo – e assumirmos uma campanha nacional que pressione os infames, que os ponha realmente na cadeia, para que sejam punidos pelos seus crimes hediondos contra a população, eles terão medo.
Tendo medo, roubarão menos. Seria uma ilusão pueril dizer que não roubarão... mas bastaria ver diminuída um pouquinho a corrupção e sobraria dinheiro para tudo o que é importante nessa nação, dos salários dos professores, médicos e policiais à infraestrutura, do transporte público ao aparelhamento dos hospitais, da moradia digna às ações profiláticas relacionadas às secas e às enchentes.
Não é sensato reagir a um assalto. Mas podemos reagir dizendo não à indiferença dos habitantes da nação distante chamada Brasília, cuja inação apequena nossas vidas. 
Eles atiram nas cabeças de nossos filhos quando tomam 10, 15, ou 20% de todas as obras que são realizadas no país. Eles cospem nos corpos de milhões de pessoas sem casa, sem escola, sem remédios, quando enriquecem ilicitamente após poucos anos de poder num cargo eletivo. Eles enterram nossos destinos quando vendem ideias de salvação, apenas para perpetuar sua permanência inoperante no poder e nada fazem daquilo que poderiam fazer.
E é importante que se diga: a responsabilidade também é nossa.
Manter-se como acéfalo político é conformar-se com esse descalabro.
Perder a capacidade de indignar-se é atirar fora um valiosíssimo combustível de mudança.
"Deixar pra lá" é sustentar a forma de existir que nos querem impor para a manutenção do poder pelo poder e não para benefício dos brasileiros.
Depende de nós dizermos que não somos baratas, que não devemos morrer como baratas, e muito menos viver como baratas.
Cabe aqui, então, fazer um pedido aos criminosos. 
Não aos da rua - pois esses eu não conheço - mas aos dirigentes desse país que porventura tenham os pés no lodaçal da corrupção:
Parem de roubar, senhores políticos. 
Esse tipo de coisa nos mata como se fôssemos insetos.
E nós não somos insetos. 
Somos gente.

(Em homenagem à jornalista Selma Barbosa Alves, funcionária da Universidade Federal da Bahia, que morreu a 400 metros do meu apartamento num assalto no dia 12/08, alvejada na cabeça sem ter esboçado qualquer reação) 

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