segunda-feira, 1 de outubro de 2012

83- O Final Feliz das Coisas Certas

Visitei uma amiga ontem e ela estava se reerguendo depois de uma grande tempestade. Foram meses de preparativos para o casamento, sonhos acalentados com muito carinho, movimentação de corpo e de alma... e de repente o outro lado desistiu. O impacto foi forte e a derrubou por algum tempo. Mas ontem, vendo-a recomeçar a sorrir, me veio a vontade de abraçá-la com palavras. Escrevi esse texto que compartilho com vocês:




O Final Feliz das Coisas Certas
(por Kau Mascarenhas)

As mais poderosas certezas acabaram. 
O mais provável não aconteceu. O sonho se tornou uma lenda e se perdeu na curva de uma estrada de escolhas que não eram só tuas.
O que fazer?
Ser o divino de si mesmo, reconstruindo o próprio universo depois de sua inevitável destruição. 
Isso era o que te restava.
O início parecia sombrio. Havia uma muralha feita com tijolos de dor que te impediam de ver horizontes mais amplos.
Querias apenas manter o olhar para baixo e a pergunta que ecoava era: "Por quê?"
Pergunta perversa, sem piedade ela te embaçava o olhar ainda mais. 
Toda e qualquer resposta que viesse seria feita de pura incerteza.
Como o remédio que mascara a origem de um sintoma, explicações viriam apenas para atenuar a dor e não para curar a ferida.
No teu peito ela permanecia, companheira fiel e latejante, a te mostrar feito em pedaços um futuro que só existira em tua fantasia.
E nesse manto de sombra te cobrias a cada anoitecer e nele despertavas a cada manhã...
Mas ai de ti se tivesse desconsiderado o tesouro dessa sombra, dessa dor.
Foi dela que brotaram lampejos criativos, e foi nela que descobriste teus elementos constituintes mais profundos.
Na dor, que nem sempre precisa arrastar-se como sofrimento por muito tempo, também tu viste o convite para escolher a vida que vale a pena ser vivida.  
Cada um terá a sua.
Qual flor perfumada que desponta da imundice, um horizonte novo se mostrou prometendo descobertas.
Nesse momento, e só a partir dele, quando o tempo genuíno das lágrimas já tinha passado, veio a compreensão de que as coisas tidas como as certas não eram as melhores.
Nem mesmo eram as coisas possíveis.
Isso se deu sobretudo quando viste que a estrada de escolhas não era unicamente tua. Notaste que as coisas certas sempre foram muito mais incertas do que julgavas.
E assim, deus/deusa da tua própria criação, fizeste o que podias: decidiu.
Voltas agora para a casa do teu íntimo, pela tua própria estrada, e isso sim é algo possível.
Mais tarde quando o imprevisível destino quiser de novo brincar com teus planos, estarás mais forte.
Oh, destino, destino! Ele sempre chegará trazendo surpresas só pra te lembrar da tua humanidade.
E tu sempre dirás a ele que a Vida te deu o divino ímpeto da reconstrução.
Mostrarás que tuas mãos também são hábeis em traçar caminhos; e que é nesse misto de livre escolha e de fado inexorável que o real se estabelece.
Felicidade portanto está além da concretização das coisas certas. Ao deitares as sementes na terra, quem poderá jamais saber quantas germinarão? 
Vida plena acontece com lágrimas e sorrisos, alicerces recentemente construídos e ruínas, luz e sombra, planejamento e surpresa.
Que bom notar o fluir dos eventos que nem sempre são doces. 
Quem cresceria na monotonia de um contentamento estéril e permanente?
Parabéns por não acertares todas as vezes, por perderes tempo apontando em direções erradas, por mirares alvos feitos de névoa sutil, e pelos escorregões que só depois serão interpretados como valioso aprendizado. 
Isso tem nome: crescimento.
Parabéns por conheceres agora a imponderabilidade das coisas certas.
Parabéns por teres optado por ti apesar de tudo.
Parabéns por agigantares tua alma, sendo gente.

Kau Mascarenhas
PRO-SER Instituto

3 comentários:

Meu Eu Lírico disse...

Que belas palavras Kau! Tenho pensado muito nos revezes do Destino e como conviver com a esta insegurança que ele gera, já que construimos muros de certezas tão certas e tão erradas.
Me identifiquei com sua amiga em alguns momentos, imagino a barra e a dor que passou... Triste, porém necessário crescimento, não é?
Me preocupa o endurecimento que pode ser gerado como consequência deste sofrimento e sei que a grande prova é se relacionar novamente com verdadeira ternura. "Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás." Como diria Che Guevara... Abraço!!

Cris Castro disse...

Kau, essas palavras transmitem uam grande verdade. Não só suam amiga passa por esse momento, eu também me identifico. E você fala com uma grande propriedade. Palavras reconfortantes e inspiradoras.
Obrigada

Anninha disse...

Amorzão, com a proximidade do novo casamento, senti a necessidade de revisitar este meu momento de dor e renascimento tão sensivelmente descrito por você! Não poderia estar mais feliz do que tendo você, que tanto me dá carinho, celebrando este momento! Te amo!!!! Obrigada pelo seu lindo coração!