segunda-feira, 1 de junho de 2009

12- A FAGULHA ENTRISTECIDA: Uma Metáfora Sobre Auto-estima (experiência de psicodigitação)

Durante o Simpósio Espírita do Rio Grande do Norte, em exercício de psicodigitação, deixei minha mente relaxar e escrevi essa metáfora que fala sobre auto-estima.
Não posso dizer que se trata de uma comunicação essencialmente mediúnica. O tema em questão é parte da minha vida profissional, pois ensino em meus curso e palestras, dentro de estradas diversas do Desenvolvimento Humano, como a PNL, aspectos que levam as pessoas a amarem mais a si mesmas.
Dedico-me ao labor de escrever, tenho um livro publicado e caminho para lançar o próximo provavelmente até o início de 2010. Portanto, a habilidade de escrever não é algo fora do meu dia-a-dia profissional. Reconheço no texto o meu próprio estilo. Quem já leu meus escritos também é capaz de ver a minha forma nele representada. Sou apaixonado por contos, fábulas, enfim, metáforas que produzam transformações em quem as lê.
Durante o curso Practitioner - Fase II, Curso Avançado de PNL, ensino os alunos a escreverem metáforas transformadoras que possam ajudar pessoas em seus processos de mudança.
Seria mais fácil reconhecer um trabalho genuinamente mediúnico que venha a partir de alguém que não tem as habilidades em questão.
Existem casos de pessoas iletradas que, em transe, escrevem lindos textos filosóficos ou tratados científicos. Outros que, mesmo sendo cultos, nunca foram à escola de medicina. No entanto, fazem diagnósticos precisos e receitam o fármaco mais adequado para o caso de um doente, quando se vêem na influência de um espírito.
Dessa feita, apenas fiquei com a mente relaxada no exercicio, juntamente com outras pessoas, e permiti que as idéias fluissem.
O texto veio tranquilamente, e bastante completo em sua estrutura.
Normalmente quando escrevo é assim que acontece.
Para mim que estudo a vida transcendente desde os 16 anos quando comecei a me interessar pelo espiritismo, a partir da leitura dos livros de Chico Xavier, a mediunidade é uma realidade absolutamente concreta. Ela possui diversas formas e é uma ponte real entre o mundo material e o extra-físico.
Entretanto, levo em consideração a orientação kardecista que nos diz para procurar incialmente todas as causas materiais de um fenômeno e só depois recorrer às explicações espirituais.
Portanto, não posso garantir que se trata de uma comunicação mediúnica.

Bem, não importa exatamente o processo que construiu o conto, se foi de minha autoria ou se na verdade é o trabalho criativo de uma mente desencarnada. O importante é o conteúdo.

Há trabalhos medúnicos de beleza e valor inquestionável, e há também obras bastante medíocres.
Que analisemos o teor, o conteúdo, a mensagem.

Pode também ter sido uma obra de parceria. Na mediunidade intuitiva as coisas acontecem de forma menos ostensiva, não há propriamente uma entidade assinando o trabalho nem um transe comum com todas as caracteristicas conhecidas, como perda total ou parcial da consciência e coisas tais.
As mentes do medium e do espírito se irmanam e trabalham juntas. Penso que a maior parte das pessoas vive esse tipo de intercâmbio sem se dar conta.

Sem mais delongas, segue aqui o texto e fica a critério de vocês pensar se foi meu ou de uma inteligência extra-corpórea. Saliento que eu o digitei em vinte minutos, quase sem correções.
Enquanto eu e mais três voluntários nos colocávamos à disposição do palestrante condutor da experiência, o querido amigo Lindomar Coutinho, um público de aproximadamente cento e cinquenta pessoas nos assistia. Local: auditório da FESA - Natal, Rio Grande do Norte, em 30 de maio de 2009, durante o XIV Simpósio Espírita do RN.

Observação: o termo psicodigitação se refere à atividade mediúnica em que o medium trabalha escrevendo diretamente no meio eletrônico, computador, enquanto a palavra psicografia diz respeito ao trabalho feito através de lapis ou caneta, tendo papel como suporte.

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A Fagulha Entristecida
(Kau Mascarenhas)

Doída por ser tão pequena, a fagulha queixava-se de nada poder fazer. Não era bela como as labaredas da fogueira que crepitavam aquecendo os aldeões, ajuntados ao seu redor.
Não era precisa e poderosa como o raio que cortou o céu em diversas tempestades e gerou espanto na população, que em suas cabanas orou rogando aos céus proteção.
Não podia comparar sua insignificante luz ao brilho das estrelas que pontilhava o firmamento, ou do plenilúnio que, de forma absoluta reinava naquela noite.
A pequena fagulha ainda se perdia nas desnecessárias divagações auto-piedosas e depreciativas, e buscava encontrar o sentido de seu mísero existir quando de um momento para o outro, tudo escureceu.
O vento soprou mais forte e assanhou o cabelo das ciganas, arrancando-lhes os adornos, logo após ter apagado a fogueira. No céu, nuvens encobriram a lua e as estrelas. Minutos antes não havia qualquer indicio de que uma tempestade iria aparecer naquelas paragens.
Curiosamente, a escuridão fez com que a fagulha fosse enxergada por todos.
Ela não era um raio na tempestade assustando pessoas nem os astros do céu enfeitando a abóboda celeste com pingos de luz.
A fagulha não era uma fogueira que permitia calor, aconchego e o preparo de alimentos para aqueles felizes ciganos. Mas lhes chamou a atenção.
A fagulha nunca se sentiu tão observada, todos pareciam encantados com ela.
Cercando-a e observando-a com atenção, eles sorriam ou trocavam comentários admirados, esquecendo inclusive da tempestade que se mostrava cada vez mais perto.
Era um povo que sabia valorizar tudo o que vinha da Mãe Natureza e, por menor que fosse, a fagulha se mostrou importante naquele momento.
Um mestre do acampamento se aproximou. Era um ancião muito sábio.
A fagulha não imaginava que seria tocada por aquele ser tão importante.
Ele a tocou gentilmente, e a carregou consigo enquanto se colocava à frente do grupo. Com ela docemente acomodada na palma de sua mão direita, disse ao seu povo:
- Queridos, estando aqui com essa pequena luz aproveito para usá-la na minha lição desta noite. Nada pode representar melhor o que pretendo lhes ensinar. A nossa fogueira não resistiu ao vento. O céu, cobrindo-se de nuvens, escondeu as luzes que há poucos instantes nos distraía os olhos. Mas essa pequena luz permanece nos encantando com seu brilho esmeraldino.
Todos estavam silenciosos e bebiam as palavras do idoso que parecia cercado de uma luz diáfana e misteriosa. Queriam saber onde o mestre iria chegar, com suas palavras tão gentis dirigidas àquela pequena luz. E a própria fagulha ainda não entendia onde estava a importância que o velho percebia nela.
- Meus filhos, muitos dos astros que brilhavam no céu há poucos instantes já deixaram de existir, uma vez que milhares de anos-luz nos separam do espaço em que orbitam. Esta pequena luz que aqui está, não. Ela mostra sua presença e mesmo tão minúscula continua existindo e se mantendo. A própria lua que agora se encontra encoberta por negras nuvens, apenas reflete a luz de um astro maior, o sol. Mas a nossa pequena luz aqui tem brilho próprio, que vem de si, e não toma emprestado luminosidade de outrem. Os raios que cortarão o céu em breves instantes durante a tempestade, nunca serão tocados, nem mansos como ela que aqui nos oferece o que pode. Mesmo pequena, tudo o que tem ela nos dá. Não ameaçará nossas plantações como eles, nem queimará nossas cabanas, como os indisciplinados raios que fazem dormirmos assustados nas noites de chuva feroz. Olhem que coisa curiosa... Ela é cheia de autonomia, cheia de flexibilidade e leveza, a tal ponto que a lançarei agora no ar e ela viajará para onde quiser, voando pela noite.
Dizendo isso, o sábio sacudiu a mão no ar e a pequena fagulha voou no espaço, flutuando e sendo acompanhada pelos olhos curiosos de todos os que ali se encontravam no círculo.
- Todos nós somos como essa pequena luz, continuou o idoso, e podemos usar tudo aquilo que temos, por menores que sejam nossas possibilidades, para encantar o mundo e a vida daqueles que estão na escuridão.
Dizendo isso, o mestre pediu que todos voltassem às suas cabanas, prendessem os animais e fizessem seu acampamento-aldeia se preparar da maneira mais segura para a tempestade que não demoraria a chegar.
Todos estavam mais felizes e entenderam o que o sábio queria dizer. Aquele pai-avô-mestre-guardião estava animando a todos a encontrar a própria luz e a fazer cada qual a sua parte, pois o mais importante é que nos sintamos especiais sendo quem somos.
Já a pequena fagulha, encontrara a resposta para o sentido de sua existência. Não mais se diminuiria diante de luzes maiores que ela.
Não mais viveria em angústia por imaginar-se insignificante.
Sabendo-se importante, dona de sua própria luz, luz que não se apagava mesmo com o sopro do forte vendaval, capaz de voar pelo céu e de escolher seus caminhos, estava mais feliz também por perceber que servira ao mestre em sua lição para pessoas que agora, gostariam mais de si mesmas.
Agradeceu a Deus por ser do seu jeito. Minúscula, mas bela. Dona do brilho que emitia e senhora dos seus vôos e caminhos. Uma verdadeira jóia flutuante.
A fagulha finalmente sentiu-se feliz por ser quem era: um singelo vagalume.

(Kau Mascarenhas)

Um comentário:

July disse...

Amei esta metafora, exemplifica como alguns de nós nos sentimos. Mostra também como podemos nos amar e nos valorizar sempre um pouquinho mais.
Abraços
July